domingo, 30 de novembro de 2014

Armação dos Búzios em 27-28 de Outubro de 2014

OBJETIVO:

(1) Coletar material fresco de Arenosclera brasiliensis com a finalidade de testar técnicas de extração de DNA e RNA para fins de seleção dos marcadores moleculares mais adequados ao estudo de suas populações.

Participaram da expedição: Eduardo Hajdu, Cássio Albernoz Fonseca (doutorando) e Dora Moura (IC). Localidade, Praia de João Fernandinho, Armação dos Búzios.


Cássio Albernoz Fonseca, cujo projeto de doutoramento procura determinar parâmetros de variabilidade na espécie de esponja marinha Arenosclera brasiliensis. Um de seus objetivos foca na verificação da distribuição desta espécie, que julgava-se endêmica da região do Cabo Frio (municípios de Arraial do Cabo, Cabo Frio e Búzios, no estado do Rio de Janeiro)

Dora Moura, aluna da UNI-RIO e estagiária IC do TAXPO tem um projeto vinculado ao de Cássio, onde ela procura determinar quais, dentre as muitas identificações preliminares de esponjas como Arenosclera sp. na coleção de poríferos do Museu Nacional, podem ser efetivamente atribuídas a esse gênero. E mais especificamente à espécie A. brasiliensis, cerne do estudo de Cássio.

Com Cássio à beira de um resfriado e Dora ainda inexperiente em assuntos de mergulho, coube a Eduardo coletar as amostras. Pela indumentária percebe-se que a água não estava nada quentinha.

A "clássica" sequência de imagens para uma amostra coletada. Neste caso, não tão clássica assim, pois inicia-se com uma foto do habitat, seguida de tomadas do espécime alvo, sem e com escala de tamanho (no caso = 5 cm), e conclui-se com a tomada da etiqueta sequencial, ao invés do computador de mergulho. Na foto do habitat, a esponja alvo é visível bem no centro da imagem, ao lado de uma gorgônia "orelha de elefante".

Já falamos destas esponjas mais de uma vez. Seja porque são marcas registradas em alguns mergulhos, espécie de "cartão-postal", seja porque sua taxonomia é para mentes dispostas a encarar desafios complexos. Para quem ainda não se lembrou, trata-se de uma Aplysina. Como, à exceção de uma, todas as demais projeções deste espécime eram cilíndricas, irregulares, com pequenos ósculos dispersos, não há muita dúvida quanto a tratar-se de uma A. fulva, sabidamente muito comum em toda a Região do Cabo Frio, além de boa parte do litoral brasileiro. Porém. a projeção lamelar, em forma de vela de jangada, escapa dos limites imaginários da variabilidade morfológica da espécie, com a consequência de que se vista isoladamente, provavelmente seria identificada como pertencente a outra espécie.

Dentre os animais coletivamente conhecidos como "NÃO-ESPONJAS", destacam-se alguns tunicados (ascídias) por sua rara beleza. Cada indivíduo aqui (cada dois sifões) é pouco maior que um grão de arroz.

Outra "NÃO-ESPONJA" bonitinha.

O "vigia" do costão. Nunca havia conseguido chegar tão perto de um peixe desses, que conheço como peixe-lagarto.

Bonito ele é, mas a corrente dos que não o consideram bem vindo no litoral brasileiro é forte. O coral-sol está cada vez mais presente em nossos mergulhos.

Uma medusa! Com a água-clara assim dá até vontade de ficar procurando "modelos" para umas tomadas em distintos níveis de contraluz. O mais comum é passar o mergulho inteiro "lambendo" a rocha sem se dar conta do que ocorre no "andar de cima" (coluna d'água).

Esta imagem não é para comparar com Fernando de Noronha, Abrolhos, ou Caribe! Essa água, aqui no Estado do Rio, e na beira da praia, não é todo dia! E esse cardume? Chegava a fazer sombra no fundo quando passava.

Para quem estiver preocupado com a saúde da população de Arenosclerda brasiliensis na praia de João Fernandinho, repare nesta "plantação" de esponjas. Decididamente, esse bicho gosta deste lugar!

Até pequenas caverninhas podem ser encontradas neste mergulho de praia - a meu ver, um dos melhores do Brasil. Há alguns anos atrás listei 33 espécies de poríferos vistos no mergulho, e de memória. Não estava listando durante o mergulho. 

Para fechar a postagem, nada como uma vista panorâmica das praias de João Fernandes (em 1º plano) e João Fernandinho (ao fundo), em um dia esplendoroso - 28/10/2014. Uma expedição e coleta que não sairão da memória. Sorte da "marinheira de 1a viagem, Dora Moura"!

quinta-feira, 20 de novembro de 2014

Alagoas em 07-12 de Outubro de 2014

OBJETIVOS:

(1) Assistir à apresentação do Exame de Qualificação de André Felipe Bispo da Silva pelo Programa de Pós-graduação em Diversidade Biológica e Conservação nos Trópicos, bem como

(2) revisitar algumas localidades de coleta em Maceió ou próximas de lá, com o intuito de buscar novas espécies, ou novas informações acerca de espécies pouco conhecidas.

O Pós-doutorando João Luís de Fraga Carraro participou da banca de avaliação, junto aos Professores Ulisses dos Santos Pinheiro da UFPE e Tami Mott da UFAL. Com relação às coletas, havia uma encomenda a atender, Cinachyrella alloclada (foto abaixo), para o Dr. Paco Cardenas (Universidade de Uppsala, Suécia), que estuda a filogenia da Ordem Spirophorida.

Cinachyrella alloclada ou C. apion coletadas para o Dr. Paco Cardenas para fins de estudo evolutivo. Trata-se de espécie dentre as mais abundantes em todo o Atlântico Tropical Ocidental, aqui ilustrada em seu habitat característico - águas rasas, bem iluminadas, e com bastante sedimento arenoso. Foto tomada sob as ruínas do Alagoinhas (Maceió).

A esponja cor de laranja no topo desta pequena rocha é aparentemente um novo registro do gênero Terpios para a costa brasileira, de onde até o presente só estavam registradas as espécies azuis, T. fugax e T. manglaris. Foto tomada sob as ruínas do Alagoinhas (Maceió).

E então José? Ficamos com Haliclona caerulea nesse caso? Ou seria o que chamávamos de H. manglaris? Fotografada nas reentrâncias observadas na parede interna do cordão arenítico exposto na baixamar da Praia da Sereia (Maceió), este indivíduo estava 100% fora d'água, porém, igualmente 100% protegido de insolação direta.

Apesar da chuva, João Carraro distraiu-se como "pinto no lixo" registrando e coletando algumas crostinhas neste habitat de iluminação suave. Foto tomada sob o cordão arenítico da Praia da Sereia (Maceió)

Vista parcial de uma armadilha tradicional de pesca na Praia da Ponta do Meirim. Nestas mesmas estruturas, encontramos em 2010 rica e abundante fauna de esponjas. Agora, em 2014, com toda a chuva que havia caido nos dia anteriores, a visibilidade estava seriamente comprometida. Some-se aí o fato de que chegamos tarde para a maré baixa e conclui-se o inevitável: a coleta deixou a desejar ...

Afinal de contas, pesquisador também precisa se alimentar!! Eduardo Hajdu e João Carraro, entre as amigas, professoras da UFAL, Mônica Dorigo Correia, em primeiro plano, e Hilda Sovierzoski.

A primeira impressão aqui foi que se trataria de Mycale alagoana, com uma típica camadinha de areia a recobrindo. Ledo engano! No laboratório de bentos do LABMAR, pudemos conferir ao observar suas espículas dissociadas que era na verdade um espécime de Amorphinopsis atlantica. Foto tomada em poça de maré sobre o cordão arenítico da Praia do Saco da Pedra (Marechal Deodoro)

Um belo exemplar de Haliclona caerulea, da mesma poça de maré que a foto acima.

Será que ainda dá para chamar de Haliclona caerulea? É uma luta compreender a variabilidade morfológica de cada espécie!! A tonalidade, muito mais escura aqui, parece bem distinta do que normalmente atribuimos à espécie. Foto tomada na mesma poça de maré que as duas anteriores.